Physis: Uma Breve História da Física

A física é uma das ciências naturais mais antigas conhecidas pelo homem. Neste artigo será explorado o início do que é conhecido hoje como física, uma breve revisão histórica de alguns dos filósofos naturais, cientistas  da ciência  seu desenvolvimento e sua trajetória desde seu início, até os dias mais atuais.

Índice
  1. Physis: uma Breve História da Física
  2. Tempos Primitivos e Escuros
    1. Mitologia
    2. Filósofos Pré-socráticos e a Enigmática Physis
    3. Tales de Mileto
    4. Pitágoras de Samos
    5. Demócrito
  3. A Revolução Científica
    1. Galileu Galilei
    2. O Método Científico
    3. Isaac Newton
  4. A Ciência Moderna
    1. James Clerk Maxwell
    2. Albert Einstein
    3. Física Quântica
      1. Niels Bohr
      2. Werner Heisenberg
      3. Erwin Schrödinger
      4. Outros Autores...
  5. O Abismo Desconhecido do Futuro

Physis: Uma Breve História da Física

Imagem de Guilherme Faura, "Physis: Uma Breve História da Física". Background: Unsplash @pawel_czerwinski

Tempos primitivos e escuros

Mitologia

Os gregos antigos costumavam ter uma narrativa mística para eventos cotidianos. Como ainda não conseguiam explicar de forma racional os fenômenos naturais, logo, divindades eram nomeadas para os diferentes eventos, lendas eram criadas e rumores eram falados em discursos públicos. Em consequência, uma mitologia completa foi formada com o tempo, a mitologia grega. Os eventos mencionados variavam desde tempestades, diferentes fases da lua, o dia, a noite, as marés, até colheitas boas ou ruins.

Filósofos pré-socráticos e a enigmática Physis

Com o surgimento dos filósofos naturais, houve um progresso, visto que a mitologia começou a não ser mais usada como fonte principal da explicação do universo e a razão passou a ser mais valorizada como método fundamental para descrever os fenômenos naturais.

Os filósofos naturais eram estudiosos da "Physis"  que do grego antigo significa "natureza". Não havia, ainda, uma separação categórica de o que era química, física, matemática ou biologia, sendo assim a filosofia natural o estudo da natureza como um todo. Cada filósofo natural pré-socrático estudava e acreditava em um arché, um único elemento que deveria estar presente em todas as coisas materiais existentes do universo.

Tales de Mileto

Tales de Mileto

Tales de Mileto (624 — 546 A.E.C), considerado por muitos o primeiro filosofo ocidental da Grécia antiga, tinha como arché a água. Para ele, a água estaria presente em tudo, não somente na forma líquida, mas em qualquer forma. Tales observou que a agricultura necessitava de água, que os falecidos ressecavam, que a natureza contem seiva, portanto concluiu que tudo ao redor precisava de água como parte fundamental.

Pitágoras de Samos

Pitágoras de Samos

Pitágoras de Samos (570 — 495 A.E.C.), matemático grego conhecido até hoje pelo seu famoso teorema. Tinha como arché os números. Pitágoras observou que a matemática estava presente em todos os lugares da natureza, consequentemente concluiu que os números e suas propriedades seriam os elementos que estariam presentes em todo o universo. Então, para ele, as mesmas regras que existiam para a matemática, também valiam para a realidade.

Demócrito

Demócrito

Demócrito (460 — 370 A.E.C.), filósofo pré-socrático, de todos os outros, para alguns autores foi possivelmente quem mais chegou perto de encontrar o elemento que estaria presente em todo o universo: o átomo. Para Demócrito, tudo que existe seria composto por elementos indivisíveis chamados de átomos. 

Nos dias atuais, é de conhecimento de que os átomos são formados por elétrons, prótons e nêutrons. Com o passar do tempo, pesquisadores perceberam, através de experimentos, que os elétrons possuíam uma massa inferior as massas dos prótons e nêutrons. Consequentemente gerou a suspeita de que as três partículas fundamentais fossem compostas por outras. Os átomos são formados por entidades ainda mais elementares; partículas subatômicas como os quarks, léptons e bósons. Desse modo, foi concluído que os átomos são divisíveis. No entanto, a ideia da teoria atômica  defendida por Demócrito  é uma das bases fundamentais introdutórias para o avanço da ciência moderna.

A revolução científica

Havia um problema. Por mais que muito progresso tenha sido feito, estudado e debatido entre os estudiosos, ainda não existia uma definição exata da ciência. Não existia uma metodologia científica e faltavam ainda ferramentas matemáticas vitais para que a ciência moderna como é conhecida hoje, existisse.

Galileu Galilei

Galileu Galilei, 15 de fevereiro de 1564 — Florença, 8 de janeiro de 1642.

Galilei (15 de fevereiro de 1564 — 8 de janeiro de 1642), um físico e matemático italiano, foi essencial na revolução científica. Não somente por suas invenções e descobertas, mas também por sua forte personalidade e filosofia, na qual criticava a tradição e a autoridade  na época defendida principalmente pela doutrina aristotélica. De acordo com Galileu, fazer ciência era comprovar através da experiência.

Suas descobertas e invenções evoluíram principalmente os estudos da Física Mecânica, o movimento dos corpos, refutando Aristóteles e o geocentrismo, paralelamente reforçando o heliocentrismo de Nicolau Copérnico. Suas invenções e descobertas notáveis foram: o relógio de pêndulo, o binóculo, o telescópio astronômico, a balança hidrostática, o compasso geométrico, uma régua calculadora, o relevo da Lua, a composição estelar da Via Láctea, os Satélites de Júpiter e as fases de Vênus.

Telescópio de Galileu Galilei. Museu Galileo, Florença. (Museo Galileo).

A Lua estudada por Galileu Galilei. Biblioteca Nacional Central, Florença. (Biblioteca Nazionale Centrale). 

A verdade histórica no julgamento de Galileu Galilei – KOJASK
"Galileo perante o Santo Ofício", século XIX, por Joseph-Nicolas Robert-Fleury.

Com o impacto de suas descobertas contradizerem com as tradições da época, foi acusado, pelas autoridades, de ser inimigo da fé, por estar tentando reinterpretar a Bíblia, o que foi visto como uma violação do Concílio de Trento e parecia perigosamente com o protestantismo. Foi julgado pelo tribunal do santo ofício, a Inquisição. Ele reconheceu diante dos inquisidores que estava "errado", para poder terminar suas pesquisas.

Carta ao pe. Vincentio Reinieri (c. 1633)

"Após a publicação dos meus diálogos, fui convocado a Roma pela Congregação do Santo Ofício, onde, chegando a 10 de fevereiro de 1633, fui submetido à infinita clemência daquele tribunal, e do Soberano Pontífice, Urbano o Oitavo; que, não obstante, me considerou merecedora de sua estima."
-pp. 145–146

"Certamente estou interessado em um tribunal no qual, por ter usado minha razão, fui considerado pouco menos que um herege. Quem sabe se os homens me reduzirão da profissão de filósofo à de historiador da Inquisição! Mas eles se comportam comigo para que eu possa me tornar o ignorante e o tolo da Itália ..."
-p. 244

"Fui obrigado a retratar, como bom católico, essa minha opinião; e como punição meu diálogo foi proibido; e depois de cinco meses sendo expulso de Roma..."
-p. 251-253

O conjunto de sua forte personalidade, filosofia, invenções e descobertas, deixaram um legado que levou uma melhor unificação de um sistema de estudo científico: o método científico.

O método científico

Fluxograma do método científico



A função primária do método científico é ser uma ferramenta padronizada da ciência para que os pesquisadores consigam novos conhecimentos, corrijam ou evoluam conhecimentos anteriormente existentes.

Os estudiosos principais para a criação e unificação de um método científico que fosse baseado no empirismo, ou seja, na experiência, foram Ibn Al-Haitham  árabe especialista em óptica; Roger Bacon  médico da Idade Média; Galileu Galilei  físico e matemático italiano; René Descartes  filósofo e matemático francês e Isaac Newton  físico e matemático inglês que por sua vez aprimorou a metodologia adicionando seu próprio método investigativo.

Usualmente, o método científico apresenta as seguintes etapas: observação, formulação, hipótese, experimentação, interpretação e conclusão. Durante a observação é observado um evento, matéria ou fenômeno; na formulação são feitos questionamentos e definição do problema; na hipótese são feitas tentativas de explicar e responder os questionamentos feitos durante a formulação do estudo; na experimentação feitos experimentos que comprovem as hipóteses; na interpretação os dados experimentais são coletados, medidos, organizados e interpretados; por fim, há a conclusão, onde o cientista ou pesquisador chega a uma explicação imparcial baseada nos resultados da interpretação dos dados experimentais visando ter uma descrição do fenômeno, matéria ou evento.

Há a necessidade que o pesquisador seja de fato imparcial em sua conclusão e teoria, visto que caso tenha uma opinião ou ideologia prévia sobre o assunto, sua conclusão pode acabar não descrevendo de fato o elemento de estudo e possuindo um viés tendencioso e não-científico, desse modo, não descrevendo a realidade.

Isaac Newton

Isaac Newton, 4 de janeiro de 1643 — Kensington, 31 de março de 1727.

Isaac Newton (4 de janeiro de 1643 — 31 de março de 1727) foi um físico, matemático e alquimista inglês, nascido no dia 4 de janeiro de 1643. Em uma pesquisa promovida pela Royal Society  sociedade científica inglesa que Newton fez parte  Newton foi considerado o cientista que causou maior impacto na história da ciência e foi figura-chave na revolução científica. Muitos estudiosos o consideram como o cientista mais genial de sua época pelo seu legado. Não é a toa que Albert Einstein possuía retratos de Michael Faraday, Isaac Newton e James Maxwell na parede de seu apartamento em Berlim e mais tarde em sua casa americana.

Alguns autores destacam a ideia de que Newton era um aluno mediano, até que uma cena de sua vida mudou isso: uma briga com um colega de escola fez com que ele decidisse ser o melhor aluno da classe e de todo o prédio escolar.

Curiosamente, seu período mais produtivo foi entre 1665 e 1667, tempo em que sua universidade ficou fechada devido a epidemia da peste bubônica, que matou um décimo da população na Inglaterra. Newton teve que voltar para sua casa e nessa fase fez algumas das descobertas mais importantes para a ciência.

Embora seja lenda a história de que uma maçã tenha realmente caído em sua cabeça, a observação da queda de uma maçã de uma árvore realmente o levou a pensar na causa da queda. Partindo desse questionamento, Newton começou o desenvolvimento da Teoria de Gravitação Universal explicando que toda partícula de matéria atrai outras partículas, portanto não seria somente a Terra que puxaria a maçã para baixo, mas a maçã também puxaria a Terra. Dessa maneira, observou que a mesma teoria poderia explicar o Sol atraindo a Terra, a Terra atraindo a Lua e percebera um padrão no movimento dos corpos celestes.

$$ F = G{\frac{m_1 m_2}{d^2}} $$

$$ F = \text{força gravitacional} $$
$$ G = \text{constante gravitacional} $$
$$ m_1 = \text{massa do primeiro objeto} $$
$$ m_2 = \text{massa do segundo objeto} $$
$$ d = \text{distância entre as massas} $$

Com essa pesquisa inicial, Newton foi mais fundo e fez mais contribuições com a física mecânica clássica. Formulou as famosas "Leis de movimento" ou também conhecidas como "Leis de Newton"; três leis fundamentais que explicariam de forma clara o conceito de forças e movimentos. Traduzidas de suas formas originais de sua obra conhecida como "Principia", são elas:

1ª lei de Newton (ou Lei da Inercia): "Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele.".

2ª lei de Newton (ou Principio Fundamental da Dinâmica): "A mudança de movimento é proporcional à força motora imprimida e é produzida na direção de linha reta na qual aquela força é aplicada.".

3ª lei de Newton (ou Lei da Ação e Reação): "A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade: as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em sentidos opostos.".

Manuscritos de Isaac Newton estão disponíveis na internet | Blog ...
Princípios Matemáticos de Filosofia Natural, Isaac Newton.

Em 1687 publicou seu livro "Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica"  "Princípios Matemáticos de Filosofia Natural"  também conhecido somente como "Principia", onde documentou e explicou suas descobertas e contribuições com a física mecânica clássica a partir dos princípios matemáticos mais simples possíveis. Principia pode ser considerado o primeiro livro de física teórica, no sentido moderno.

Estudos de óptica de Isaac Newton.

Newton também fez contribuições seminais para a óptica e compartilha crédito com Gottfried Wilhelm Leibniz pelo desenvolvimento do cálculo infinitesimal. Também construiu o primeiro telescópio refletor prático  um novo tipo de telescópio e também desenvolveu uma teoria sofisticada da cor com base na observação de que um prisma decompõe a luz branca nas cores do espectro visível. O trabalho de Newton sobre a luz foi coletado em seu livro altamente influente Opticks, publicado pela primeira vez em 1704.

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Opticks, Isaac Newton.

Ele também definiu uma lei empírica do resfriamento, fez o primeiro cálculo teórico da velocidade do som e introduziu a noção de um fluido newtoniano. Além de seu trabalho sobre cálculo, como matemático Newton contribuiu para o estudo de séries de potências, generalizou o teorema binomial a expoentes não-inteiros, desenvolveu um método para aproximar as raízes de uma função e classificou a maioria das curvas do plano cúbico.

A Ciência moderna

O método científico já estava bem definido e sendo seguido por estudiosos, o cálculo diferencial e integral também já havia sido desenvolvido e muitas sociedades acadêmicas estavam contribuindo para o conhecimento  como a Royal Society, portanto os próximos cientistas teriam muitas ferramentas necessárias em suas mãos para evoluir a ciência, a produtividade seria ainda maior, assim, iniciava-se a ciência moderna.

James Clerk Maxwell

James Clerk Maxwell, 13 de junho de 1831 — Cambridge, 5 de novembro de 1879.

James Clerk Maxwell (13 de junho de 1831 — 5 de novembro de 1879) é lembrado como o cientista do século XIX a ter mais influência sobre a física do século XX e um dos responsáveis por contribuições básicas nos modelos naturais, sendo considerado uma ponte entre a matemática e a física.

Uma de suas contribuições para a física, possivelmente a principal, foi unir a eletricidade, o magnetismo e a óptica, assim, dando uma forma final a teoria do eletromagnetismo com as famosas "equações de Maxwell" baseada no trabalho anterior de Michael Faraday, que assim, puderam calcular a velocidade da luz. Seu conceito de que a luz seria uma forma de radiação eletromagnética ajudaria também mais tarde Albert Einstein a chegar a teoria da relatividade.

Piada famosa que pode ser encontrada em camisetas de física; Equações de Maxwell a respeito de campos eletromagnéticos e luz.

Antes de seu trabalho sobre eletromagnetismo, a compreensão que se tinha de eletricidade e magnetismo era que se tratava de partículas que exerciam forças umas sobre as outras. Ele demonstrou que, ao contrario, ambos deviam ser vistos como campos existentes no espaço, conforme descritos por suas equações e os princípios enunciados por elas. Portanto, demonstrando que efeitos elétricos e magnéticos são diferentes manifestações de uma mesma força eletromagnética, ou também chamado de eletromagnetismo. Foi uma maneira totalmente nova de encarar a natureza das forças.

Seu trabalho em eletromagnetismo foi a base da futura teoria da relatividade restrita de Einstein e o seu trabalho em teoria cinética de gases, fundamental ao desenvolvimento posterior da mecânica quântica. Maxwell também foi o primeiro cientista a tirar uma fotografia colorida permanente, em 1861.

Primeira fotografia colorida permanente, 1861, James Clerk Maxwell.

Em seus últimos anos de vida, no ano de 1870 publicou o livro "A teoria do calor", que dá forma final à termodinâmica moderna e em 1871 inventou o conceito de "Demônio de Maxwell", para demonstrar que a segunda lei da termodinâmica  que diz que a entropia nunca decresce, tem um carácter estatístico. Ainda neste ano, aceita monitorar o novo Laboratório Cavendish, em Cambridge. Ele mesmo supervisionou a construção do edifício e a compra de todos os aparelhos científicos.

Em 1873, Maxwell publicou o "Tratado sobre Eletricidade e Magnetismo", livro que continha todas as suas ideias sobre este tema e que reúne todo o trabalho que foi fazendo ao longo dos anos. Ele estava preparando uma revisão abrangente deste tratado, com as suas novas descobertas neste tema, quando morreu em Cambridge prematuramente de cancro do abdômen.

A Treatise on Electricity - James Clerk Maxwell - Docsity
Tratado sobre Eletricidade e Magnetismo, James Clerk Maxwell.

Albert Einstein

Albert Einstein, fotografia colorizada. (Ulm, 14 de março de 1879 — Princeton, 18 de abril de 1955).

Próximo ao final do século XIX, depois das equações de Maxwell, da mecânica clássica de Newton, dos avanços da matemática infinitesimal, do desenvolvimento da termodinâmica e do aprimoramento da teoria eletromagnética, muitos cientistas achavam estar próximo de uma descrição completa do universo. No entanto, a situação era diferente, ainda faltava muito, era necessário revisar conceitos mais fundamentais como a própria luz, tempo e gravidade, que até então eram descritas pela física clássica.

Era imaginado que o espaço sideral era preenchido por um meio contínuo chamado "éter", meio onde raios luminosos e sinais de rádio se manifestavam, assim como o som se manifesta como ondas de pressão no ar. Para essa hipótese se tornar uma teoria completa, faltavam medições cautelosas e rigorosas sobre o éter, logo, foi construído o laboratório chamado de Jefferson Lab, na Universidade de Harvard, que não usava nenhum prego de ferro em sua arquitetura, para que não houvessem interferências magnéticas nas futuras delicadas medições. Contudo, os projetistas esqueceram de que os tijolos avermelhados com os quais o laboratório  e a maior parte de Harvard foram construídos  contém grandes quantidades de ferro. Ainda no final do mesmo século, começaram a surgir divergências da ideia de um "éter onipresente". Uma série de experimentos foram incapazes de sustentarem essa ideia.

Albert Einstein, um físico teórico alemão, nascido em 14 de março de 1879, após se formar no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, passou quase dois anos frustrantes procurando um cargo de professor, mas acabou no Instituto Federal Suíço de Propriedade Intelectual  o escritório de patentes da Suíça  onde começou a trabalhar em 16 de junho de 1902 como examinador assistente. Na maior parte do tempo no trabalho, analisava patentes relacionadas a transmissão de sinais elétricos e sincronização eletromecânica do tempo, dois problemas técnicos que aparecem visivelmente nos experimentos mentais que o levaram as suas conclusões radicais sobre a natureza da luz e da conexão fundamental sobre o espaço e tempo.

Em 1905, Einstein publicou uma série de artigos acadêmicos revolucionários, tão revolucionários que o ano ficou conhecido por "Annus Mirabilis" ("Ano Miraculoso"). Os artigos foram publicados no "Annalen der Physik"  um dos mais conhecidos e antigos periódicos sobre física  em 1905. Na época, nem todos eles foram devidamente valorizados por desafiarem conceitos já pensados antes. Hoje em dia, em homenagem a data, o dia do físico é marcado em dezenove de maio (19/05), fazendo referência ao Ano Miraculoso de Albert Einstein.

Em um artigo escrito em junho de 1905, Einstein observou que, se o observador não pudesse detectar se estava ou não se deslocando através do espaço, o conceito de éter seria supérfluo, obsoleto e desnecessário. Albert imaginou que as leis da ciência deveriam parecer as mesmas para todos os observadores se movendo livremente. Deste modo, todos deveriam calcular a mesma velocidade para a luz, não importando a rapidez com que se movessem. A velocidade da luz independe do movimento do observador e é a mesma em todas as direções.

Em consequência, foi também necessário repensar o conceito de tempo. Até então era um consenso de que o tempo era uma grandeza absoluta, universal e independente. Mas para Einstein o tempo teria que ser relativo, cada pessoa teria seu próprio tempo. Os tempos de dois observadores iriam corresponder se eles estivessem em repouso em relação ao outro, mas não se estivessem se movendo.

Isso foi confirmado por uma série de experimentos, incluindo o notável experimento em que dois relógios atômicos foram colocados em aviões voando em direções opostas ao redor do planeta e ao regressarem, mostraram tempos ligeiramente diferentes. O tempo para os passageiros do avião voando em direção a leste foi menor do que os que estavam no avião voando para oeste.

Teoria da relatividade – Wikipédia, a enciclopédia livre
Ilustração do espaço-tempo, imagem de Mysid, "Spacetime".

A teoria da relatividade, apesar de simples e ter convencido muitos estudiosos, gerou uma grande oposição. Einstein jogara por terra dois conceitos fortes da ciência do século XIX: o repouso absoluto, representado pelo éter e o tempo absoluto ou universal, que seria medido por todos os relógios. Nas palavras de Einstein:

"A velocidade da luz no vácuo é a mesma para todos os observadores em referenciais inerciais e não depende da velocidade da fonte que está emitindo a luz, tampouco do observador que a está medindo. A luz não requer qualquer meio (como o éter) para se propagar. De fato, a existência do éter é mesmo contraditória com o conjunto dos fatos e com as leis da mecânica."

"...existem sistemas cartesianos de coordenadas  os chamados sistemas de inércia  relativamente aos quais as leis da mecânica (mais geralmente as leis da física) se apresentam com a forma mais simples. Podemos assim admitir a validade da seguinte proposição: se K é um sistema de inércia, qualquer outro sistema K' em movimento de translação uniforme relativamente a K, é também um sistema de inércia."

Outros cientistas, especialmente Henri Poincaré e Hendrik Lorentz, tinham teorizado partes da relatividade especial. No entanto, Einstein foi o primeiro a reunir toda a teoria em conjunto e perceber o que era uma lei universal da natureza, não uma invenção de movimento no éter, como Poincaré e Lorentz tinham pensado. Originalmente, a comunidade científica ignorou os artigos do Ano Miraculoso na época. Isso começou a mudar depois que recebeu a atenção de Max Planck, o fundador da teoria quântica, um dos físicos mais influentes de sua geração e o único físico que notou os trabalhos. Ambos viriam a se conhecer em uma palestra internacional na Conferencia de Solvay, após Planck gradualmente confirmar sua teoria.

Uma das obras de Albert era o desenvolvimento da teoria da relatividade especial. O mesmo percebeu, no entanto, que o princípio da relatividade também poderia ser estendido para campos gravitacionais  ao perceber a relação entre tempo, espaço e gravidade  e com a sua posterior teoria da gravitação, de 1916. Publicou um artigo sobre a teoria da relatividade geral. Assim, gerando uma grande nova área de estudo da física, antes quase inexistente.

Hoje, a teoria da relatividade é completamente aceita pela comunidade científica e suas previsões já foram verificadas em incontáveis aplicações e experimentos.

Equivalência massa-energia. Imagem de Guilherme Faura, "A Equação Mais Famosa do Mundo".

Devido a teoria, notou-se uma relação entre massa e energia, que levou a famosa equação:

$$ E = mc^2 $$
$$ E = \text{energia} $$
$$ m = \text{massa} $$
$$ c = \text{velocidade da luz no vácuo} $$

Essa, talvez, sendo a equação mais famosa e reconhecível da física até os dias de hoje.

Física Quântica

Fotografia de Max Planck
Max Planck (Kiel, 23 de abril de 1858 — Göttingen, 4 de outubro de 1947)

A física quântica  também chamada de Mecânica Quântica  é o ramo da física que lida com a escala microscópica ou escala atômica e seus eventos, ou seja, grosseiramente falando, tudo que acontece fora da escala macroscópica, tais como: moléculas, átomos, partículas, elétrons, prótons, nêutrons e partículas subatômicas ainda menores. Mas alguns de seus efeitos não são observáveis somente em tal escala.

A física quântica moderna como conhecemos é dita ter surgido formalmente em 1920, mas já era estudada pelo cientista alemão Max Planck  considerado pai da física quântica por muitos autores, desde 1900. E a partir do conhecido problema do corpo negro, surgiu a física quântica, um marco histórico.

Nos finais do século XIX, uma das dificuldades da física resumia-se na interpretação das leis relacionadas a emissão de radiação por parte dos corpos negros. Os físicos não conseguiam explicar o espectro de radiação emitido pelos chamados corpos negros através da teoria eletromagnética e termodinâmica  ambas sendo as teses científicas mais comprovadas e aceitas até então.

Com a existência deste problema anterior e alguns outros, houve a necessidade de uma nova área inteira: a Física Quântica.
Gráfico sobre radiação de corpo negro. Fotografia por: Darth Kule.

Corpos negros são objetos ideais ou superfícies hipotéticas que absorvem toda radiação eletromagnética que incide sobre eles. Nenhuma luz o atravessa e nem é refletida, por isso, parecem negros para a visão humana. Na natureza, não existem tais materiais, já que nenhum objeto consegue ter absorções e emissões perfeitas.

Max Planck veio com a teoria de que a radiação não se propagava em um fluxo contínuo, ou seja, a energia não seria contínua, diferente do que era dito pela teoria eletromagnética, mas sim em porções separadas, como pacotes indivisíveis e independentes, a menor porção de energia existente possível, que foram chamados de quanta, plural de Quantum. Quantum do latim significa quantidade e com a teoria de Max Planck, a área se tornou conhecida como Física Quântica, ou Teoria Quântica.

No desenrolar do problema dos corpos negros, para que fosse descrito em linguagem matemática, também foi desenvolvida a constante de Planck, nome dado em homenagem ao pesquisador que passou parte considerável de sua vida pesquisando sobre o problema.

$$ h = 6,63 \cdot 10^{-34} J \cdot s $$

Com a constante era possível obter a energia de um fóton com a seguinte equação:

$$ E = h \cdot v $$

$$ E = \text{Energia} $$
$$ h = \text{Constante de Planck} $$
$$ v = \text{Frequência das radiações}$$ $$\text{eletromagnéticas} $$

Graças a Teoria dos Quanta produzida por Max Planck, outras pesquisas a usaram como referência e puderam continuar com novos estudos na área. Mais tarde essa teoria foi fundamental para o prêmio nobel conquistado por Einstein ao descrever o Efeito Fotoelétrico.

Niels Bohr

Niels Bohr (Copenhaga, 7 de outubro de 1885 — Copenhaga, 18 de novembro de 1962)

Niels Bohr (7 de outubro de 1885 — 18 de novembro de 1962) desenvolveu um modelo atômico baseando-se na teoria atômica de Rutherford e a teoria quântica de Max Planck. Em seu modelo os níveis de energia dos elétrons são discretos, ou seja, respeitam os fundamentos dos quanta em órbitas estáveis em torno do núcleo atômico, essas sendo capazes de "saltar" de um nível de energia (ou uma órbita) para outro apenas emitindo um quantum. Isso se tornou popularmente chamado de "salto quântico".

Seus cálculos e métodos se basearam na força centrífuga gerada pelos movimentos dos elétrons e na atração eletromagnética entre os elétrons e o núcleo. Dessa forma, buscou verificar sua hipótese através da análise espectral.

Bohr também acreditava que os elementos poderiam ser analisados separadamente com propriedades contraditórias, comportando-se como uma onda ou um fluxo de partículas. Isso traria alguma explicação e progresso para o experimento de dupla fenda que revirava as mentes dos físicos da época.
Uma ilustração do "experimento de dupla fenda" em física. Imagem de NekoJaNekoJa & Johannes Kalliauer. 

Em 1922, Bohr recebeu o Prêmio Nobel de Física "pelos seus serviços na investigação da estrutura de átomos e da radiação que emana deles". O prêmio reconhecia seus trabalhos como um dos pioneiros no campo da mecânica quântica.

Werner Heisenberg

Werner Heisenberg, imagem de Guilherme Faura.

Werner Heisenberg (5 de dezembro de 1901 — 1 de fevereiro de 1976) desenvolveu o que é conhecido como mecânica matricial, revolucionando a forma com que a teoria quântica era tratada até então. Em sua hipótese, o conceito de movimento clássico não encaixaria na teoria quântica e que os elétrons não viajavam em padrões bem definidos de órbitas. Ao contrário, para Heisenberg, os movimentos eram incertos e não poderia ser conhecido a posição e o momento das partículas simultaneamente. Quanto mais precisão fosse conhecida sobre uma das variáveis, menos precisão seria conhecida sobre a outra variável. Isso ficou conhecido como Princípio da Incerteza. Em suas palavras:

"Ela pode ser expressa na sua forma mais simples, como se segue: nunca se pode saber com precisão perfeita ambos destes dois factores importantes que determinam o movimento de uma das menores partículas a sua posição e a sua velocidade. É impossível determinar com precisão a posição e a direção e velocidade de uma partícula no mesmo instante."

Sendo sua expressão matemática:

$$ \Delta x_{i}\Delta p_{i}\geq {\frac  {\hbar }{2}} $$

$$ \Delta x_{i} = \text{Coordenada } x_{i} $$
$$ \Delta p_{i} = \text{Momento linear } p_{i} $$
$$ \hbar = \text{Constante de Planck (h)}$$ $$\text{dividida por 2π} $$

Se já não estivesse claro antes, a partir deste marco, talvez ficou mais claro para os acadêmicos da época que a física quântica se trata de uma ciência de natureza extremamente teórica e probabilística, ou seja, que lida com probabilidades com graus de precisão calculáveis. Por este motivo, há muita complexidade em experimentos de física quântica. A maioria dos físicos da época, apesar de chocados em nunca terem visto algo parecido, não tiveram muitos problemas em aceitar essa natureza probabilística, mas não para Einstein. Einstein não gostava muito da ideia de incerteza, para ele a teoria parecia incompleta, ele criticava, em suas palavras:

"Como já disse tantas vezes, Deus não joga dados com o mundo."
-Einstein and the Poet.

"A mecânica quântica é certamente grandiosa. Mas uma voz interior me diz que ainda não é a coisa real. A teoria diz muito, mas na verdade não nos aproxima do segredo do 'antigo'. Eu, de qualquer forma, estou convencido de que Ele não joga dados."
-Carta para Max Born (4 de dezembro de 1926). As cartas de Born-Einstein.

Erwin Schrödinger

Erwin Schrödinger (Viena-Erdberg, 12 de agosto de 1887 — Viena, 4 de janeiro de 1961) 

Erwin Schrödinger (12 de agosto de 1887 — 4 de janeiro de 1961) também teve um papel revolucionário na área. O cientista criou uma estrutura matemática para explicar o comportamento das partículas subatômicas que poderiam ter propriedades ondulatórias, onde, em seu método, tratava partículas como ondas tridimensionais, cada uma com uma função de onda própria, sendo todas administradas por uma equação diferencial fundamental, na qual ficou conhecida como a equação de Schrödinger e suas variantes.

Equação dependente do tempo:
$$ {\displaystyle {\hat {H}}\left|\psi ({\vec {r}},t)\right\rangle =i\hbar {\frac {\partial }{\partial t}}\left|\psi ({\vec {r}},t)\right\rangle } $$

A equação de Schrödinger não é a única forma de se fazer previsões em mecânica quântica. Existem outras sistemáticas tais como a mecânica matricial de Werner Heisenberg e o trajeto da integração funcional de Richard Feynman.

Diagrama do experimento mental do gato de Schrödinger. Imagem de Dhatfield.

Schrödinger também como tentativa de ilustrar o Principio da Incerteza de Heisenberg e o conceito de Sobreposição Quântica, criou o famoso experimento mental do Gato de Schrödinger. Ele imaginou colocar um gato dentro de uma caixa com veneno, há 50% de chance do gato comer ou não comer, mas não há como afirmar com certeza até abrir a caixa, portanto, enquanto a caixa está fechada o gato poderia ser considerado "vivomorto", ou seja, o estado de superposição quântica. E se a caixa for aberta e confirmado que o gato de fato morreu, então, de certa forma, o observador é responsável pela morte do gato.

Outros autores...

Muitos autores notáveis também contribuíram para a física quântica, tais como Louis de Broglie, Max Born, John von Neumann, Paul Dirac, Wolfgang Pauli, Richard Feynman e outros.

O abismo desconhecido do futuro

"The Butterfly Nebula and the star Sadr." Imagem de Unsplash @aldebarans

Com o avanço de muitas áreas, a física, como conhecemos, é descrita por alguns como algo que chegou até um degrau mais satisfatório de estabilidade, onde a raça humana parece ter ferramentas teóricas e experimentais para responder muitas coisas sobre o universo, principalmente a respeito da macroescala. Todavia, a arrogância humana já se manifestou durante a história muitas vezes e talvez esse breve momento de estabilidade seja uma mera ilusão, mais uma mera ignorância humana de algo muito maior lá fora, nas sombras da natureza, esperando para ser descoberto por um individuo que investigará e acenderá as luzes do conhecimento. É de consciência dos especialistas, alguns conceitos nas quais ainda não existem muitas respostas ou que possuem inconsistências. São alguns dos tópicos notáveis debatidos atualmente:
  • Gravidade Quântica (Quantum Gravity)
  • Energia Escura (Dark Energy)
  • Matéria Escura (Dark Matter)
  • Teoria das Cordas (String Theory)
  • Assimetria Matéria-Antimatéria (matter–antimatter asymmetry)
  • Teoria de Tudo (Theory of everything)
E esses são somente alguns dos problemas em que há consciência das comunidades científicas. Ninguém sabe o que está lá fora, nas sombras da natureza, esperando para ser descoberto.

Nota do autor: Ao pensar sobre este artigo tinha duas escolhas: fazer um texto extremamente técnico e extenso, com muita complexidade desnecessária de tal forma que não seria de simples compreensão, nem para mim, nem para os leitores e que provavelmente não seria lembrado, ou fazer um artigo, ainda que com muita informação, de simples entendimento para que as pessoas pudessem admirar os cientistas do passado, suas invenções, suas descobertas e cultivar mais interesse sobre a física e a ciência. Se chegou até aqui, acredito que saiba qual escolha fiz. Há um certo problema em fazer trabalhos dessa natureza mais histórica: as pessoas esperam que você cubra todos os assuntos, cada data e cada individuo envolvido. Por questões de comprimento, infelizmente não pude falar sobre toda a história, áreas e todos os cientistas que merecem todo nosso respeito, mas seria necessário muito mais tempo, logo, organizei um resumo histórico do que considero fundamental e interessante na história da física, incluindo os meus próprios heróis da física. Por meses estive tentando domar esse artigo e agora que finalizo, tomo consciência de que este, até o dia de hoje, é o maior trabalho e pesquisa de natureza histórica que já fiz, aprendi muito no caminho para a escrita deste artigo. Acho que sempre podemos achar complexidade em questões simples se olharmos profundamente o suficiente.

Referência bibliográfica

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